De Ganceiros à Cela

De Ganceiros à Cela, ou o trilho da mentira…

Uma caminhada ( e um dia!) para esquecer. Era dia de Rally! como expliquei aqui.

O último prospecto (coisa horrorosa!) distribuído pelo PNBL-SX apresenta o “novo” sendeiro Ganceiros – A Cela – Pitões. Já tinha percorrido esta zona no ano passado, e, maldito rally, repetir o caminho, parecia-me a melhor opção dadas as circunstâncias. Já eram 8:30 e, sem grandes alternativas pela zona, convenci-me a ir ver como estaria o tal trilho, uma vez que está sugerido no dito prospecto.

Com uma boa dose de desconfiança, estaciono à saída de Ganceiros junto ao início do estradão de terra batida. A primeira confirmação das minhas suspeitas ocorre quando se deixa o estradão e se segue por um caminho empedrado. Dois postes, sem qualquer marca ou inscrição, assinalam a bifurcação. Logo a seguir, no tramo que sobe, segundo poste. Igual aos anteriores desprovido de qualquer marca.Segue-se um desfile de postes de marcação, e que mostra ao mesmo tempo o aspecto e a conservação generalizada do trilho.e quanto a limpeza:Até que apareceu uma “marca”…e outras da mesma autoria, suponho!Chegado ao alto de Rebordiño e já sem a sombra do pinhal, avisto a famosa ponte, quase tão famosa como esta, que atravessa o Salas e nos possibilita o acesso a A Cela.

A descida até à ponte faz-se seguindo por trilho igualmente por limpar. Apenas esta aceitável no tramo final mesmo ao chegar à ponte.

Saindo da ponte…

Até que aparece uma marcação! e, ou oito ou oitenta…ou seja, a limpeza também “limpou” o poste, como se vê (mal mas vê-se o poste caido) aqui,

Para logo depois se encontrarem cobertos pela densa vegetação do caminho que, pela parte de baixo da estrada, nos leva até à aldeia de A Cela.

Ao fim disto tudo, chegado à aldeia, para terminar em beleza, regressei pelo mesmo caminho até ao Alto do Foxo, descendo até Ganceiros pelo estradão. Continuei a ver marcações antigas e sem sentido algum. Será que sobra alguma coisa, daqui?
Já em Março de 2010, as coisas não iam bem…mas continuam

Uffa! que dia…

Castiñeira – Coto do Arcediago

 Entre castanhas e pedras

Começando nos castanheiros da Costa da Laxa até ao silêncio das pedras do Coto do Arcediago, ou como dizem também – “as de Diego”.

“Cada uno fai o seu deporte!”…na Reserva da Biosfera

 

É. É um Rally em plena reserva da biosfera. Coisa rara! mas é verdade. ‘Sustentabilidade’..eles lá sabem e provam!

Realizou-se ontem a 8ª edição do Rallye Ourense Baixa Limia. Estão todos de parabéns. Assim, e nada tendo contra o automobilismo, a modos que “haciendo el parvo”, pergunto eu: – Quem autoriza este tipo de actividades num Parque Natural, Transfronteiriço e Reserva da Biosfera? Bom, já se tinha feito anteriormente, dirão alguns. É certo. Mas também não há necessidade de continuar a insistir na asneira. Ou haverá! Quem sabe?

Talvez o saiba aquele senhor que integrava o pequeno grupo de pessoas que se vêem no final do curto vídeo acima. Ao chegar a Cela, vindo de Ganceiros pelo trilho que passa pelo Rebordiño, farto de ouvir  os carros acelerando e indignado com a realização desta prova, aproximei-me destes senhores e, percebi de imediato, que o errado era eu! Comecei com ironia, perguntando se o dinheiro gerado por estas actividades seria aplicado na limpeza dos trilhos…e se, já agora, podiam realizar um rally cada semana, incentivando o Turismo. “Cada uno fai o seu deporte!”. Foi a resposta que levei. Claro que retorqui. Perguntei se um caminheiro está errado ao andar num Parque Natural e se achavam correcta a realização de um rally.

Ainda tive tempo para ouvir das que não quis! das quais se salienta esta:“Non lo sabeis? estes (eu, para o caso) levam toda unha vida andando, e non chegan a ter can!”

– Para não descer mais baixo do que considero “sustentável”, para conversas deste tipo, com este tipo de gente, atravessei a estrada, fotografei um carro, despedi-me destes senhores com a cordialidade que preservo,  e voltei a Ganceiros, continuando a ouvir o roncar dos motores, pelo mesmo “sendeiro”, por limpar, e com uma sinalização duvidosa… de que vos falarei…PERDONEN LAS MOLESTIAS!

Também ficou isto:

“Nada temos, porém, tudo possuímos”

Das muitas conversas ocorridas durante uma das últimas caminhadas, sobressai, como de costume, o estado do parque, a sua defesa e a sua visitação. Claro está que, as regras e as taxas acabam sempre por entrar nesse cardápio. É assunto que interessa a todos, quer do ponto de vista pessoal (alguns de nós caminham sozinhos com alguma frequência), quer do ponto de vista colectivo, enquanto  elementos de um pequeno grupo (5-6 elementos máx.) espontâneo e informal, sem qualquer estrutura organizativa.

Lembrei-me hoje de uma história que não contei mas, com… jeitinho, assenta como uma luva ao nosso Parque Transfronteiriço – Reserva da Biosfera.

A história era esta: – Os frades tinham colocado o seguinte letreiro na porta do convento: “Nada temos, porém, tudo possuímos”. Um passante, certa noite, escreveu por baixo: “Quem não tem vergonha, todo o mundo é seu.”

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