Lindoso – aumenta a tensão

Esta entrada é parte 6 de 27 na série Lindoso

Bande, 19 de Setembro 1991 – Perante a dura realidade, a tensão entre os “afectados” aumentava ao passar de cada dia. As diferenças de opinião e de atitude dos diferentes “vecinos”, criavam facções e alimentavam conversas que frequentemente terminavam  em discussões. Nem sempre a informação detida pelas partes intervenientes era coincidente. Especulava-se muito sobre preços e pagamentos.

Aproveitando a presença do Presidente da Xunta de Galicia, Manuel Fraga Iribarnes, dia 18 de Setembro em Bande, para homenagear o escritor e jornalista Eugenio Montes, um grande número de “afectados” deslocou-se até ali na intenção de se manifestarem. No final das cerimónias, dois representantes do colectivo de “afectados” da barragem do Lindoso entregaram-lhe em mão um dossier com pareceres jurídicos sobre a problemática das expropriações.

19set91-1pag1

19set91laregion1

 

 


Lindoso – Lista de silêncios

Esta entrada é parte 5 de 27 na série Lindoso

…Continuando uma série de entradas relacionadas com o processo de desaparecimento de 7 aldeias e suas terras, dos concelhos de Lovios e Entrimo, província de Ourense, durante a construção/ampliação da barragem do Lindoso, por parte da EDP. As obras começaram em 1982 e as comportas fecharam em 9 de Janeiro de 1992.

Perante o alagamento eminente que os privaria das suas terras para sempre, a “Loita pola terra” adensava-se.

capa17set

 

 

A 17 de Setembro de 1991 o jornal diário “La Región” voltava a dar notícias dos acontecimentos do Lindoso.

Os cortes dominicais da fronteira da Madalena sucediam-se. Perante uma realidade incontornável e cada vez mais próxima, a luta endurecia. A presença das autoridades, nomeadamente a Guarda Civil com forças de intervenção sediadas em Verín e deslocadas para o efeito, proporcionava cenas de violência.

Na mesma edição, página 7, o artigo “LISTADO DE SILENCIOS”  faz uma cronologia da situação do “traslado de poblaciones”,  nos últimos 20 meses.

IMG_1016-2

17 Set 1991, La Region – jornal diário da província de Ourense.

“Los vecinos y propietarios afectados por la construcción del embalse han interpuesto a lo largo de los últimos 20 meses una serie de reclamaciones contra las expropiaciones que no han surtido el más mínimo efecto.

En abril de 1990, 168 afectados de Lovios e Entrimo, reclamaran por escrito a la Comisión Hispano Portuguesa creada al efecto la rectificación, ampliación e inclusión de otros bienes afectados directamente por las obras pero que inciden en la situación de los pueblos, a la que no se contestó.

En agosto, denunciaran este silencio al Ministro de Obras Publicas, al tiempo que solicitaban los trámites para proceder al “traslado de poblaciones”.

En febrero de este año, los vecinos elevaran un escrito al gobernador civil denunciando el mismo silencio y advirtiendo sobre el incumplimiento del Reglamento especial que desarrollaba el Decreto del embalse, al omitir tramites. En abril fue a la Dirección General de Obras Hidráulicas a quien se acudió para denunciar los incumplimientos.

En 18 de junio de este año les llega a los vecinos la primera – y hasta el momento, única respuesta oficial  En ella el MOPT, que denomina “recursos de reposición” a las reclamaciones, informa a los vecinos que remite los recursos a la Comisión Hispano Lusa, lo que el abogado que entiende en el asunto interpreta como un mero traslado de la decisión, “acaso por haberse elegido Órgano incompetente para tramitar los recursos”-

La citada Comisión no ha contestado absolutamente nada, y “por ser decisión de tramite no existe acto definitivo sobre el fondo de la cuestión que sea recurrible salvo considerarlo resuelto denegatoriamente, por vía de silencio, con el riesgo de esa defectuosa elección de Órgano” manifestó el abogado.

Los vecinos pedieron en agosto del 90 al MOPT e del 91 al Consejo de Ministros un “traslado de poblaciones”, ante la inminente ocupación, sin que se haya tenido conocimiento de resolución o trámite alguno sobre ello.”

 

A EDP negociava em 1991

Esta entrada é parte 3 de 27 na série Lindoso

Um pequeno extracto das declarações da EDP quando as expropriações não estavam ainda concluídas e as ameaças de encerrar as comportas eram cada vez mais frequentes. As acções de luta continuavam. Os montantes pagos eram muito diferentes entre o lado de lá e o de cá.

 

Imagens: arquivo Francisco Baños©

 

Lindoso – quanto vale uma terra?

Esta entrada é parte 2 de 27 na série Lindoso

Foram tempos difíceis para estas regiões. É curioso o uso do termo “afectados”, empregue frequentemente a partir daqui, pois foi  assim que passou a ser designada esta gente. Afectados por uma coisa que nunca poderiam vir a entender. Perder as suas terras e casas, os seus locais e suas memórias, o local onde nasceram e cresceram.

Foram tempos de negociação, umas vezes mais limpa e polida, outras mais baixa e até suja.Constituíram-se comissões arbitrais,  assinaram-se contractos, fizeram-se acordos.

 

 

Imagens: arquivo Francisco Baños©

 

O programa e calendarização da obra eram alongados ao sabor das negociações. A resistência aumentava de lado a lado. O descontentamento aumentava e acendiam-se os ânimos.

Por esta data a EDP informou as populações que, em Outubro iria entregar aos organismos competentes as “Actas previas de expropiacion forzosa”. Seriam um momento decisivo para que a luta se acentuasse até à entrega das actas. Sucederam-se os cortes de estrada, as cargas policiais e até uma greve de fome, fechados na Igreja de Aceredo, por tempo indeterminado.