Dezembro 1991
Dezembro 1991
Depois desta noite nada passou a ser igual. Tratava-se da consciencialização do fim iminente.
imagens de arquivo de Francisco Baños©
No dia 25 de Novembro de 1991, o nível da água subiu de forma surpreendente, consequência das chuvas fortes dos dias anteriores. Talvez fazendo parte de uma estratégia de pressão e afirmação da força, este terá sido um momento decisivo neste processo de luta desigual e desproporcionado. As indemnizações ainda não estavam (todas) pagas, facto que revoltou ainda mais a população. Ao mesmo tempo, as relações entre populares e a empresa Cotec, empresa galega encarregada das obras de transladação da igreja de Aceredo, eram de enorme tensão. Atrasandando as obras da igreja, a população tudo fazia para protelar a subida das águas.
Foi plantada e cresceu. Foi decepada. Perdeu a terra. A seiva esvaiu-se. As raízes mantêm-se…e ainda está presente…
Lembrei-me dos versos de Carlos Oliveira cantados por Manuel Freire.
Não há machado que corte
A raiz ao pensamento
Não há morte para o vento
Não há morte
Se ao morrer o coração
Morresse a luz que lhe é querida
Sem razão seria a vida
Sem razão
Nada apaga a luz que vive
No amor num pensamento
Porque é livre como o vento
Porque é livre
Fotos da Albufeira do Lindoso na zona Galega – localidade de Aceredo, actualmente sob as águas
Foi no dia 18 de Novembro de 1991 que a EDP iníciou os pagamentos pelas terras e propriedades afectadas. O acto decorreu na Casa Consistorial de Lobios. Mesmo asssim, foi com atrasos e alguns percalços que os cheques foram sendo entregues. A presença de “agentes Bancários” que tentavam angariar para as suas instituições clientes novos, causou mau estar generalizado eforam apelidados de “corvos” pela população.
Foi também o dia que marcou o início dos trabalhos de traslado da Igreja de Aceredo. Até esta data a empresa que realizaria os trabalhos foi impedida pelos “afectados” de realizar qualquer trabalho. As pedras da Igreja começariam assim a ser numeradas, primeira tarefa de uma empreitada que levaria ainda alguns meses a terminar.
É isto que nos diz “La Voz de Galicia” na edição de 19 de Novembro de 1991