Serra de Sta. Eufémia – Parque Natural Baixa Limia- Serra Xurés


Ontem, Sábado 24 Abril,  depois de achar que o dia estava perdido relativamente a caminhadas, uma vez que a manhã já lá ia gasta em compromissos inadiáveis, cerca das 11:30 desafiei minha mulher para um passeio de aperitivo. Sendo conhecedora do que a casa gasta, via-a preparar a mochila e calçar as botas!

Alto, a coisa promete! Sem a mínima ideia para onde ir, lá surgiu a pergunta sacramental: “Onde vamos?”

Estando em Lobios,conhecendo bem a zona, nada nos ocorria como “enquadrável” para fazer. Fomos “listando” os sítios que se ajustavam à situação e ao facto de ser quase meio-dia. Depois de deambular em direcção à Portela do Homem, ainda antes de chegar a Rio Caldo, mesmo em frente à subida para a ermida de N. Sr.ª do Xurés – Vilameá, corto à direita para A Devessa e sigo até Padrendo. Estacionei junto ao início do trilho “circular” de Padrendo e a proposta era ir até à chã de Ventoselo e regressar. Durante o agradável trajecto até lá, a possibilidade de encontrar o, desde à muito procurado, antigo trilho marcado de subida ao Alto de St.ª Eufémia pelo Bidueiro, evitando assim o fastidioso estradão (ões) que nos levam até lá, fez-se presente!!!.

Uma vez chegados à chã de Ventoselo, seguimos no sentido oposto do trilho marcado correspondente ao Trilho de Padrendo, e fomos contornando o sopé da serra de St.ª Eufémia pelo lado norte. Sempre atentos a qualquer indício de trilho ascendente, fomos percorrendo o estradão sem grandes expectativas. Por fim, depois de mais uma investida – o trilho parecia estar lá – por entre tojos e mato rasteiro, um primeiro sinal desbotado dava-nos a certeza de que seria o antigo trilho que conduziria ao alto.

Tomar a decisão de subir foi um trato silencioso e celebrado com o olhar. Iríamos subir! Logo se veria até onde!

Já há muito tempo que não íamos até ao Alto de St.ª Eufémia. É um local soberbo pelos seus contrastes paisagísticos em relação aos diferentes pontes cardeais. Desde o avistar da Louriça e o Ramisquedo – Mata do Cabril, o Lindoso e a albufeira, parte da  Peneda e Castro Laboreiro, Alto de Olelas e a correspondente margem esquerda ali mesmo aos pés, até à cumeada, continuando a rodar a cabeça, desde As Gralhas, Fonte Fria, Nevosa  e Altar de Cabrões, a Lage do Sino e por aí adiante, quase a ver-se a Portela do Homem encimada pelo Pé da Medela. O Xurés e Gerês em perfeita comunhão e harmonia!

 

Uma progressão lenta lenta devido ao mato existente, marcou o início da subida moderada até à Porteliña e depois  o “escadório” até ao Bidueiro. Contornando o cabeço que nos impedia de ver as antenas, chegamos à Chan da Carballa, finalizando assim a primeira parte do “escadório”, tão acentuado é o declive ascendente nesta zona. Perpendicular às linhas de nível, por entre um mar de mariolas nos Picos do Cabril, avistamos as antenas pela 1ª vez. Faltam alguns metros, não menos difíceis para alcançar o Alto de St.ª Eufémia.

Alcançado o topo, tempo para uma contemplação da paisagem e um café reconfortante ao socairo de um edifício, abrigados do vento que se fazia sentir.

Recuperadas energias e satisfeitos com tão empolgante subida, decidimos descer por terrenos mais “pacíficos”, seguindo o estradão que nos conduziria até à Chan deVentoselo novamente, pare depois descer até Padrendo por entre ribeiros e moinhos, numa paisagem de bocage, perfeita, à luz do poente. Depois de ameaçados com uns pingos de chuva, a “Eufémia” encobria-se atrás de nós dando as boas noites. O arco-iris exibia-se, sinal de que, se não estás molhado, não tarda nada que o estejas!

Um aperitivo de quase 7 horas… Tempo suficiente para um banho reconfortante e uma “cena” – e não um almoço – no Café Cubano, onde a cortesia  e profissionalismo nos faz sentir em casa!

Caminho Português de Santiago III – 4ª etapa

Esta entrada é parte 3 de 5 na série Caminho de Santiago

4ª Etapa – Arcade – Caldas de Reis – 33.8 Km

11 Abril. Domingo. Depois de um descanso e uma jornada pouco desgastante no dia anterior, (a menos do calor que se fez sentir, cheguei muito cedo e folgado a Arcade), sentia-me enérgico suficiente para mais um dia  longo. Saí ainda antes das 8:00. O arrefecimento nocturno fazia-se notar,  acentuado por um vento matinal fresco e um tanto desagradável.

Desci as ruas de Arcade ainda num lusco fusco que adivinhava um dia de céu limpo, cruzando apenas com algumas pessoas de idade que se dirigiam à Igreja. Pelo caminho encontrei tudo fechado.

Rapidamente cheguei a Pontesampayo. (ou Ponte Sampaio!) O sol dava os primeiros ares da sua graça, e proporcionava algumas fotos interessantes. caminhoSem problemas de orientação, rapidamente saio de Pontesampayo tomando um caminho impressionante e cheio de “cicatrizes”, evidenciando orgulhosamente toda a história nele contida. Subia a encosta da Canicouba até ao Cacheiro. Caminhando paralelamente ao rio,  zona de lazer Os Gafos, alcanço Pontevedra, cedo,  numa manhã domingueira,  solarenga e com pouca gente, o que tornou a travessia muito agradável.

Atravessada Pontevedra ( O Albergue só abre às 13:00), passo a ponte de O Burgo, cruzando o Rio Lèrez, e sigo pela Rua da Santiña em direcção à Gandra, refrescando-me ao passar na fonte da Santiña, a conselho dos passantes, por ser uma “áuga mui boa”.

Seguem-se alguns dos trechos mais bonitos da jornada. Castrado, Pozo Negro, S. Mauro (em festa !!! e onde descansei!, “invitado dos veciños”) e por aí fora… até voltar à fastidiosa N550 já perto de Tivo. Agora por terrenos cultivados e vinhas, chego Caldas de Reis. Entrei pela Calle Real seguindo em direcção à ponte medieval do Bremaña. Logo imediatamente à ponte, virando à esquerda, fica o Albergue de Caldas! Não sabia da existência deste Albergue. Quando passei pela Fonte das Burgas, ao aproveitar por relaxar os pés nas águas termais, um grupo de peregrinas alemãs informou-me da recente abertura de um Albergue provisório. Trata-se de um salão num r/chão de um prédio, com apenas uma casa de banho e um só chuveiro. De pouca lotação, estava esgotado e não encontrei lugar. Encontrei a simpatia e a informação necessária para alternativas à minha pernoita.

Foi tempo de me alojar, tratar do corpo e da barriga, e passar uma noite tranquila.

Caminho Português de Santiago I

Esta entrada é parte 1 de 5 na série Caminho de Santiago

De Ponte de Lima a Santiago de Compostela – 1ª e 2ª Etapas

8 a 13 Abril 2010

Preparação -pressupostos iniciais.

Organizar e preparar uma viagem deste tipo, de acordo com os meus princípios e “filosofia” de viagem, isto é, máximo de autonomia e o menos “pesado!” possível, não foi tarefa fácil.

Fiz,… e desfiz, o saco vezes sem conta. Comecei por uma mochila de 25 Lts. Conseguia transportar tudo mas, o facto de ter que colocar o saco-cama e a esteira fora da mochila, fizeram-me equacionar a situação de chuva e mau tempo, acabando por achar pouco prática esta configuração. A cobertura da mochila não se adaptava, e um saco cama molhado, de nada serve e constitui um peso morto que nos faz rogar pragas ao diabo!

Passei a uma mochila de 30 Lts. Tudo bem. Consegui colocar todo o material (depois de criteriosamente seleccionado, vezes sem conta, como disse) mas o acesso a qualquer coisa que fosse preciso tirar ou por na mochila, obrigava a tal “engenharia” que me pareceu pouco viável no sentido prático do seu uso. Assim, ensaiei com o mesmo modelo, mas de 40 litros, e tudo passou a funcionar; Espaço suficiente para tudo dentro da mochila, a sua arrumação e utilização eram fáceis. Estava encontrada a combinação. Claro, um pouquinho mais pesada…mas mais prática! Material necessário e saco estavam decididos. Mochila -40 Litros – Peso total-6,240 Kg+500 gr água

A credencial do peregrino

credencial

Embora a motivação para uma caminhada até Santiago, seja normalmente conotada com motivações religiosas e questões de fé, no meu caso pessoal, e não querendo de forma alguma chocar aqueles que tenham dificuldade em compreender as minhas motivações, a motivação passou, basicamente, pela motivação de todas as caminhadas. Simples e claro. Sair de “A” e (tentar) chegar a “B”. Muito matemático – dirão alguns!. Muito laico, para um caminho carregado de Religiosidade, mitos e cultos que perduram no tempo – Dirão outros. Mas foi só isso! Ir a Santiago pelo Caminho Português. De Ponte de Lima a Santiago de Compostela.

“Googlando” Caminho de Santiago e Jacobeu Xacobeu e Caminho Português e Caminhos de Santiago e Peregrinação e… mais o não sei quê…tudo vai dar a 3 ou 4 “sítios” onde a informação nem sempre é clara ou fiável. Mas é a que há. Para usar um Albergue de Peregrinos, é sempre necessário uma “Credencial de Peregrino”. Primeira grande conclusão!

Como a obter?

Decidi ir ao “Turismo”! em Viana do Castelo! Primeiro passo desta caminhada de 160km, números redondos, mais palmo,  menos palmo!

Além de encontrar gente conhecida e amabilíssima, que me receberam com toda a deferência e com profissionalismo requintado, não deixei de sentir que, no meu modo muito pessoal de interpretar estas situações, algum constrangimento ao comentarmos, cordialmente, o “funcionamento” do Caminho Português.

A informação existe! mas chegar a ela, continua a ser “enredante”, digo, maçadora e, no mínimo, desmotivante.

Disponibilizaram-me informação em brochuras e até um guia com “tiragem” limitada, pelas quais reforço os meus agradecimentos, mas….mas,  a “Credencial” não podia ser obtida ali! Estranho? Ponto final, parágrafo!

Mas, no entanto, coisa louvável, obtive todos os contactos e procedimentos para a sua obtenção!

Uma série de telefonemas, e parecia-me já estar a fazer o “Caminho”.

Não posso deixar de salientar a disponibilidade e amabilidade de todos os interlocutores dum périplo  telefónico  iniciado em Viana, até à minha deslocação a Esposende, para receber em mão a Credencial. Agradeço a cortesia do Sr. M. Miranda (núcleo de Esposende).

Associação Espaço Jacobeus – Praça da Faculdade de Filosofia, 16 – Apartado 3056 – 4711-906 Braga

www.jacobeus.web.pt

Nota: Depois de ter chegado, soube da existência de uma associação de amigos do Caminho em Viana do Castelo, entre outras.

A Partida

Depois de cumpridos detalhes de última hora que me fizeram adiar sucessivamente a partida, acabei por iniciar a viagem no dia 8 de Abril, desde o Largo Camões, em Ponte de Lima,  às 13:45. Linda hora! mas foi o que se pode arranjar. Partir no dia seguinte, configurava problemas ainda maiores do que a improvisação que resultaria na gestão das etapas, que inicialmente previa uma saída cedo pela manhã, com o objectivo de chegar a Tui logo no 1º dia.

Assim, depois de tudo pensado, via-me forçado a começar “de improviso”. Primeiro grande momento de constatação da vantagem de ter decidido ir sozinho! Tudo se resolverá, e pés ao caminho!

As Etapas

Depois de ter começado quase 6 horas depois do previsto, estava fora de questão cumprir  o programado e efectuar as etapas inicialmente escolhidas. A escolha assentava na distribuição equilibrada dos quilómetros a percorrer em cada dia, bem como a existência, ou não, de Albergues na zona. A intenção era não fazer jornadas muito pesadas nem muito ligeiras, ficando preferencialmente em Albergues. As etapas realizadas, adaptação forçada do itinerário inicial em consequência da partida muito atrasada, foram as seguintes:

1º Dia – Ponte de Lima – Rubiães – 19 Km

2º Dia – Rubiães – Porriño – 38 Km

3º Dia – Porriño – Arcade – 22 Km

4º Dia – Arcade – Caldas de Reis – 33.8 Km

5º Dia – Caldas de Reis – Picaraña – 29.2 Km

6º Dia – Picaraña – Santiago – 14.6 Km

Embora pudesse ter chegado a Santiago  no 5º dia, optei por não sobrecarregar a jornada em demasia e chegar a Santiago pela manhã, mais fresco e com mais tempo, só no dia seguinte.


Opiniões pessoais

Como já disse anteriormente, a minha motivação para o Caminho, foi, entre outras, o gosto por caminhar e a experiência de uma caminhada longa por um caminho carregado de história. Também tiveram o seu peso as constantes sugestões, quer de outros caminheiros quer de peregrinos propriamente ditos, para fazer o Caminho. Todos me garantiam uma experiência inolvidável.

Não digo que estivessem enganados, ou tenham exagerado a sua apreciação do caminho. De facto, a experiência é de todo positiva. Mas, sendo rigoroso na apreciação pessoal do caminho, quase me atrevo a dizer que “soube a pouco!”

Explico, sem romancear muito.

Esperava um Caminho mais genuíno. Com menos asfalto e tramos comuns em estradas nacionais.  Com menos  betão e aldeias menos descaracterizadas. Ingenuidade minha, está-se mesmo a ver! Ao longo do tempo, o progresso e as vias de comunicação foram “desenvolvendo” o Caminho. O resultado não podia ser outro. Ao contrário de quem diz que o Caminho se alegra ao deixarmos montes e vales e nos aproximamos de centros urbanos, as minhas maiores “alegrias” foram sempre nos trechos mais isolados da civilização.

Restam pequenos trechos onde se respira ainda o que de mais autêntico chegou a nós de toda a história e imaginário deste itinerário. Felizmente que o seu peso na apreciação global  supera, em número, a enorme quantidade de quilómetros em pavimento betuminoso, sendo o balanço final positivo.

Quanto à sinalização, os reparos são mínimos. Não tive qualquer problema de navegação. No entanto, alguns sinais estão colocados em sítios pouco apropriados ou chegam a pecar por excesso. Por vezes, parece haver demasiadas colaborações voluntárias,  na sinalização do Caminho.

 

*  *  *

 

Ponte de Lima

1ª Etapa – Ponte de Lima a Rubiães – 19 Km

Tendo (!) que assinalar na credencial o ponto de partida, e ficando o Albergue de Peregrinos de Ponte de Lima logo ali no final da ponte velha, optei por carimba-la aí. Parecia-me o local indicado e ideal para obter mais alguma informação sobre o “Caminho”.

De portas fechadas, o horário exibido indicava a abertura só às 17:00 horas. Inquestionável esperar!

Pouco preocupado com o formalismo do carimbo, mesmo assim, decidi entrar no café contiguo e solicitar assim o carimbo que iria marcar o local de início, ao qual pronta e amavelmente acederam.

Seguindo as setas amarelas, facilmente deixo Ponte de Lima em direcção a Arcozelo por entre muros e vinhas, pleno cenário rural minhoto, em terrenos bastante inundados onde as rãs coaxavam para logo apressadamente mergulharem nos charcos à minha passagem.

Mochila ajustada, pernas aquecidas, fresco e cheio de vontade, Riba Riopasso a Quinta de Sabadão e prossigo por terrenos agrícolas passando Arcozelo rumo à Labruja. Ao passar o lugar de Riba Rio, ainda em Arcozelo, não  deixei de visitar o Riba Rio Café-bar do Sr. Benvindo Brito, que amavelmente nos recebe das 9 às 22:00. Local aprazível merecedor de uma visita, não só pela qualidade  dos produtos, bem como do serviço apresentado.

 

Eram 16:00 horas quando cheguei ao lugar de Revolta, já na Labruja. Uma breve visita à “venda” do Sr. Manuel Brito, dois dedos de conversa, responder a algumas perguntas de resposta óbvia -“sim, vou para Santiago!”, mais um carimbo, prontamente sugerido pela proprietária, revelando familiaridade e apreço pelos Caminheiros e Peregrinos que ali vão passando. Depois da Revolta, só faltava subir a única subida digna do nome em todo o trajecto, passar a Cruz dos Franceses, o Quartel da Brigada, para depois descer por Agualonga, Lugar de Cabanas até Rubiães, já concelho de Paredes de Coura, onde cheguei pouco antes das 18:00H.

Chegado a Rubiães passando mesmo por trás da igreja românica, segui até ao Albergue a cargo da Junta de Freguesia, onde mais tarde tive o prazer de encontrar o seu responsável máximo, o sr. Francisco Dias, presidente da J.F. de Rubiães, que de modo muito simpático, explicou o funcionamento bem como as transformações que a antiga escola primária sofreu para hoje se ter convertido em Albergue.

Uma vez instalado, saí do Albergue descendo em direcção à ponte romana para logo a seguir passar na “venda”, onde providenciei o pequeno-almoço do dia seguinte. Regressado ao Albergue, tempo ainda para um café e conhecer e conviver breves momentos com os outros simpáticos ocupantes.

2ª Etapa – Rubiães a Porriño – 39 Km

Saida às 8:00.  Seguindo pela ponte romana, tomei a direcção de S. Bento, esperando a luz do sol, fazendo algumas fotos e caminhando junto ao Rio Coura que corria vigoroso à luz do amanhecer de um dia de céu limpo e azul. Prometia ser um dia quente. Depois de uma paragem de descanso pelos lados de Cerdal, atravesso a estrada nacional 13 no cruzamento para Arão cerca do meio dia para chegar a Valença cerca das 13:00. Mais um descanso entre as últimas fotos da Fortaleza de Valença e atravessar a ponte ferro-rodoviária sobre o Rio Minho para chegar a Tui, já território Galego.

Perdendo uma hora no relógio (GMT+1), mesmo assim pensei ser muito cedo para terminar a jornada. Coloquei a mim mesmo a possibilidade de ir até Porriño. Decisão difícil, considerando que estava na hora de maior calor e o dia estava quente, que teria que atravessar e parte mais desmotivante de todo o Caminho, o famoso Polígono Industrial das Gándras. Mas, enquanto subia as ruas e ruelas do centro antigo, até chegar à Catedral e, logo por trás, conhecer o Albergue de Tui, decidi continuar. Breve conversa no Albergue, mais um carimbo e siga para Porriño. Descendo novamente, aproveitando a varanda natural que Tui é sobre o Rio Minho, apreciando os seus belos recantos e monumentos, vou deixando Tui para trás. Pouco depois deparo-me com o primeiro trecho de estrada. Estrada de alcatrão. Puro e duro. Quente!. Uma berma pintada a vermelho, cria alguma segurança, mas não deixa de ser um tramo “desolador”.  Segue-se uma das mais belas (e emblemática) parte do Caminho – A Ponte das Febres – onde descansei. Às 17:30H passava a ponte de Orbelle. Ainda antes de entrar no mal fadado Polígono Industrial, passei no Suzo-Bar, estrategicamente posicionado, foi altura de tomar fôlego para atacar As Gándras. (Obrigado pelo telefonema  Paulo). Logo a seguir entro em Porriño. Passagem pelo centro em direcção ao Albergue onde cheguei às 19.45. Este Albergue encerra às 22:00, não sendo possível entrar depois desta hora, mesmo registado anteriormente.




Continua…

Caminho Português de Santiago II

Esta entrada é parte 2 de 5 na série Caminho de Santiago

3ª Etapa – Porriño a Arcade – 21.7 Km

Pazo de Mós Sábado.  Um dia que prometia ser quente. E foi! Deixo passar um pouco o bulício causado pelos ciclistas que na sua maioria ocupavam o Albergue, e só saio pelas 8:40. Um pouco mais tarde, mas a jornada não metia pressa.

Deixando Porriño pela estrada N550, sigo mais à frente um desvio recente criado com a intenção de afastar os peregrinos da perigosa estrada de tráfego intenso. Ao verem-me percorrer um trajecto algo diferente daquele a que estão habituados a ver, alguns habitantes interpelaram-me e tentaram-me “corrigir” sugerindo mesmo que eu estava enganado. Ao início achei estranho, pois tinha a certeza de ter seguido a orientação dada pelo último sinal. Estava eu neste dilema, quando um dos habitantes mais informado confirmou a minha suposição. Trata-se de desvios recentemente criados como alternativas para evitar a circulação na N550  o máximo possível. Com a certeza de estar no caminho correcto, passo o Pazo de Mós (10:00) e inicio a subida da Rua dos Caballeros refrescando-me na fonte do mesmo nome. (10:23)

Antes de começar a descer para Redondela, passo por Santiaguinho das Antas com o marco miliário (via XIX) de Vilar – Guizan- Louredo. Por entre caminhos betonados e estradas secundárias asfaltadas descemos para voltar à fastidiosa N550 -passando os estaleiros de construção de mais um viaduto, que  trás a população muito indignada.

Cheguei à Torre do Relógio, Albergue de peregrinos de Redondela, cerca das 12:45. Esperando a abertura do Albergue às 13:00, um ” amontoado” de caminheiros procurando a sombra, esparramava-se à porta. Todos muito atentos e controladores da chegada de cada um, tentando assim garantir lugar no Albergue, já que a ocupação se processa por ordem de chegada!

Descalcei-me, massajei os pés fartos de asfalto, e entretanto decidi continuar até Arcade, deixando a disputa dos lugares para os que decidiam terminar ali o dia.

Atravessei o centro o mais rápido possível, esperando deixar quanto antes a confusão citadina.

Saio de Redondela novamente pela N550, para seguir em direcção ao O Viso,  Alto do Outeiro, zona já florestada, mas sem deixar de me apetrechar para o almoço, e já agora, mais um carimbo, no café bar “O Pereiro”.

Segue-se o trecho mais bonito do dia; a subida para depois sermos brindados lá no alto com uma panorâmica sobre a Ria de Vigo. Com o calor que se fazia sentir, ao contemplar aquele braço de água, animei-me para a descida até Arcade.

Por mera coincidência, o primeiro bar onde entro, é de uma Portuguesa! ” A Taberna” da D.ª Fátima. Quem diria! logo no primeiro tiro!

Decido pernoitar em Arcade, onde mais facilmente arranjaria alojamento do que em Pontesampayo, segundo as informações prestadas.

CONTINUA…


Minas das Sombras – Alto da Amoreira

Lobios, 3 de Abril de 2010.

Depois de um tão longo período sem caminhar, decidi não esperar mais tempo nem melhores oportunidades para tal. Vai assim mesmo! O Tempo estava mais tolo do que eu! Ora chovia, ora estava sol, sempre com um vento moderado e frio. Estando em Lobios, recorri ao que tinha mais à mão, e siga até à Ermida de Nosa Señora do Xurez em Vilameá, Lobios. Depois logo vejo para onde ir…sendo que, dali, o mais certo e ir até às Minas das Sombras. Estando só, e com um tempo tão incerto, pensando nas nuvens que ameaçavam nos cumes mais elevados, optei mesmo por fazer mais uma visita às minas. Garantiria assim a segurança e os imprevistos, tão bem conheço aquele trilho e aquela zona.

Até às Minas, mais chuvada menos chuvada tudo foi como de costume. A luminosidade do dia mudava constantemente e realçava detalhes da paisagem. Lá fui andando. Chegado às minas, sou recebido por um Garrano  fêmea, prenhe e, não fiquei certo, ferida no posterior direito, que assentava com dificuldade.

Avistei-a no meio do caminho quando acabo de sair de trás da parede, onde termina o curso de água vindo de cima, mesmo em frente da boca da mina. Foi uma surpresa para os dois, mas não fugiu. Lentamente progredi tentando chegar ao talude superior, contornando o muro, esperando que com o meu avanço ela se afastasse cedendo-me passagem. Ao mesmo tempo não a queria incomodar, e esperava que ela tomasse uma decisão. Para onde iria? para o fim do caminho em frente ao edifício das camaratas? ou subiria por onde eu tinha intenção de prosseguir? Passo a passo, falando-lhe e com muita calma fui-me aproximando. Nem se mexia! Procurava apoio com o posterior direito de quando em vez, e as suas orelhas seguiam os meus ruídos. Eram as únicas coisa que mexiam. Assim estivemos longos dez minutos. Deixei-a em sossego, parecendo-me debilitada e algo assustada.

Prossegui caminho em direcção ao Alto da Amoreira, onde cheguei cerca do meio dia. O Tempo parecia compor-se e decidi ir almoçar aos Carris.

Contemplei o Altar de Cabrões, O Alto dos Carris, o Outeiro Redondo, o Vale dos Salgueiros da Amoreira, o Outeiro da Meda e a Lage do Sino. Esqueci-me do tempo e das horas.

Seguindo já por entre um terreno bastante nevado, subindo sempre junto à linha d’água que nos conduz em direcção ao marco geodésico do Alto de Carris, o céu escurece repentinamente e começa uma saraivada intensa. Sem qualquer tipo de abrigo alcançável em tempo útil, ali fiquei a levar com elas. A visibilidade reduziu-se a uns escassos 3 metros. Assim fiquei durante uns cinco minutos até que o granizo se transformou em neve.  Facilmente abandonei a ideia de continuar até aos Carris, optando por regressar às Sombras. Optei por aguardar uma aberta e sair dali só depois de ter alguma visibilidade do terreno. Estando sozinho, disciplinei-me para não correr ou dar passos precipitados que facilmente resultam em quedas com aquele tipo de terreno.

Foi tempo de chegar às Sombras, almoçar e regressar à Ermida quase sempre debaixo de chuva.