Sábado, 23 Julho 2011
Um saco cheio de vento… e uma raçada de sol.
O dia para mim tinha começado muito cedo. Pouco passava das 6:00h e eu rumava de Lobios à Vila do Gerês. Às 7:00h, e com a pontualidade que tanto me apraz nestas coisas de encontros, estávamos reunidos e “em ordem de marcha”. Relativamente ao que iria fazer a seguir, a incógnita permanecia. Em pouco mais de uma hora de viagem, “despejava” e despedia-me destes companheiros, deixando no ar as prováveis possibilidades de encontro! Após muitas sugestões, tudo indicaria Carris como local mais “eficaz” para um possível (e desejado!) encontro. Logo veremos. (veríamos!)
Indeciso entre, repetir a caminhada de 3ª feira passada e voltar a subir a Carris desde a Ermida do Xurés, ou declinar o encontro para o dia seguinte, algures onde as circunstâncias o permitissem, decidi honrar as expectativas criadas no momento da despedida. Cerca das 10:30, mais precisamente às 10 horas e vinte e dois minutos, saio do vale de Vilameá para ir almoçar ao restaurante Carris e, claro, ajudar a aliviar as mochilas destes dois companheiros. 🙂 que deveriam estar por ali…
Mal tinha começado a andar, antes de chegar a Ponte de Porta Paredes, encontro os vestígios deste manjar, do qual ficaram, literalmente, as penas. Desconheço predador e presa…(mas gostava de uma achega de alguém que saiba do assunto, e tenha a gentileza de comentar!)
Sigo a bom ritmo até às Sombras, abastecendo-me de água, coisa rara nos dias que correm (Os dias correm..A água é que não!… ou corre muito pouca nesta época do ano!) naquela serra do Xurés/Gerês, na travessia do Rio Vilameá, descendo ao lado da ponte.
Conhecendo aquele vale, sabia que a temperatura ia subir. Mesmo sendo já um pouco tarde, começavam-se a sentir deslocações de ar quente à medida que o sol ia subindo no horizonte. O céu mantinha-se limpo, mas a atmosfera difusa e de poucos contornos ao longe. Uma luminosidade típica destes dias de Verão que, embora não seja minha preferida, não deixa de ter as suas subtilezas e belezas.
Atravessado o estradarão, reabasteço de água ali na ponte aos pés do Pion de Paredes. O Sol castigava e a pequena aragem que (pouco) corria, não faziam as coisas fáceis para caminha àquele ritmo que eu levava. Passagem rápida pelo complexo mineiro das Sombras,
contemplando a Portela da Amoreira, e estou no marco 91 da fronteira 🙂 Trans-Fronteiriça PNBL-SX e PNPG.
Tempo de avaliar os tempos! O tempo meteorológico e o calor que iria sofrer no regresso, bem como o horário razoável para o encontro previsto. Estaria eu nos Carris a tempo de um almoço? Almoçariam eles em Carris? – Sem respostas, e continuamente formulando aquelas perguntas que nunca devemos fazer, as pernas embicaram em direcção ao Alto de Carris e aos seus 1508m. Contemplei o Altar de Cabrões, o Curral da Amoreira, o Outeiro da Meda, o Outeiro Redondo, nas minhas costas,
e deliciei-me com a visão da represa de Carris, chegado ao alto. O vento soprava fraco, e começava a desenhar a superfície das (poucas) águas. Não passaram 10 minutos, e o vento crescia de modo impressionante.
De fraco a moderado, e de moderado a forte, o vento ia crescendo
foi o tempo de trepar até a Penedo da Saudade depois de percorrer parte do complexo tentando não perturbar os garranos e restante gado que ali pastava.
Tempo de espera. No local mais exposto, varanda por excelência, precisamente para ser visto e ver o melhor possível, aguardo em pé a eventual chegada dos companheiros! Nada. Nem auxiliado pelos pequenos binóculos que por vezes carrego, consegui detectar a sua presença. O tempo passava. Sabia-me bem estar ali mais tempo. Com a calma do local ( a menos do vento! vá lá, não era frio!) esperei e descansei uns bons 3/4 de hora, esticando ao máximo o meu tempo de permanência!. Não queria fugir muito daquilo que era o meu horário de regresso provável. A segurança é factor primário, sempre. Mas muito mais, quando estamos sós!
Contemplei atentamente todo o desfiladeiro das Negras e o trilho por onde eles deveriam aparecer. Nada! Os Currais na sua tranquilidade! Dois garranos e algumas vacas pastavam la no fundo. Eles? Nada!
“Vá lá! Não te atrases !” – Dizia o lado da responsabilidade! “para a próxima, quando marcares horas prováveis para regresso, define convenientemente o conceito de “prováveis” ”
“Espera mais um bocadinho, e eles já aparecem aí” – Dizia o lado laxista, buscando e rebuscando todos os argumentos para me fazer esperar mais tempo. – “até escusas de carregar a garrafa cheia de volta!”, era uma ideia que me invadia de forma atroz. Sempre era um quilito que podia e deveria repartir com eles!
Estava bem, muito bem, ali. A menos do vento que, zunindo nas orelhas, impedia contemplar aquela calma mas ao mesmo tempo aviva o “genius locci” , queria ficar ali mais tempo. Uma última avaliação da situação, “in extremis”, não apontava para outra coisa: – Regresso!
Assim foi. Sem descurar a possibilidade de ainda os avistar ao iniciar o regresso, decidi subir em direcção ao marco geodésico de Carris.
Um último folgo e compasso de espera, uma vez chegado ao alto e esgotando a derradeira possibilidade de nos vermos naquele dia, foram como que uma despedida insossa para as expectativas formuladas!!! Acontece! Não nos vimos, e muito menos nos encontrámos. Que pena!
Nada estava perdido. Já tinha uma barrigada de serra. Faltava-me então fazer a digestão descendo até Vilameá! Uma vez entrado no Vale da Amoreira, à ausência de vento sucede-se um ar quente sufocante e que foi aumentando com a profundidade do vale. Desisti de procurar motivação, pois certamente que me iria cansar mais e gastar mais energias, do que descer o trilho das Sombras, que, como sabemos, de sombra só tem o nome. A subir ou a descer!
Cheguei ao destino com uma barrigada de serra, um saco cheio de vento…e uma raçada de sol, … e trouxe o vinho de volta…, mas valeu a pena.
(soube posteriormente que o “encontro” falhou por meia hora! Boh!…)