Ao fazer mais uma vez este caminho, logo num dia em que a luz difusa banhava o vale transformando-o numa mancha verde à qual o Outono começa a emprestar uns tons ocre, o trilho ao longe parecia mais evidente que o costume. Ao chegar à ponte de Porta Paredes compreendi porque se tornava tão evidente o trilho. Não era da luz. Está em manutenção. Realizam-se (realizaram-se?) trabalhos de limpeza da vegetação. Embora seja um trilho relativamente frequentado, as condições climatéricas do último ano especialmente, favoreceram o crescimento da vegetação. Mesmo depois de um Inverno frio, com bastante neve e que se fez presente até Abril, a vegetação começava a estrangular algumas zonas do trilho. Em algumas fotos pode ver-se a marcação do carreiro antigo e a diferença após o corte da vegetação.
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Honrar os compromissos
Domingo, 4 de Setembro de 2009.
Não foi de todo inocente esta ida às Sombras, confesso.
Quando lá passei no dia 20 de Setembro,o trilho apresentava marcas recentes e muito evidentes da passagem de bicicletas, e vi, ao longo do trilho entre a Ponte de Porta Paredes e o estradão, 5 ou 6 fitas de plástico vermelho com a inscrição “geapro”em letras garrafais e, com menor destaque, as siglas “uvp” e “fpc” sob o logótipo de um ciclista.
Era a primeira vez que via este trilho marcado desta forma. Embora a minha ignorância não me permitisse decifrar a origem concreta de tais fitas, de imediato intui tratar-se de uma qualquer prova de BTT ou passeio ciclista organizado, que teria passado por ali recentemente. Tudo me parecia normal, inclusive o facto das fitas ainda ali estarem. Normal nestas coisas. Estamos habituados a encontrar fitas e fitinhas de plástico que serviram para a realização de determinadas provas e depois não são removidas. Infelizmente estamos habituados. Tudo me parecia normal. À medida que ia caminhando, fui pensando com os meus botões, em recolher as fitas no regresso. Isto era o “anjinho mau” a funcionar na minha cabeça. Ao mesmo tempo, o “anjinho bom” dizia-me que poderia ser uma prova a realizar, e não uma prova já realizada! “Olha que as fitas ainda fazem falta”, sussurrava-me na consciência o “anjinho bom”. “ in dubiu pró réo” e… andando. Regressei deixando as fitas tal como estavam.
Googlando um pouco, facilmente fiquei a saber que no dia 7 de Setembro se tinha organizado uma prova BTT, promovida pela GEAPRO. Batia certo. Procurei o contacto da organização e, ao telefone, tentei inteirar-me de fonte segura, sobre o que se tinha passado, e sobretudo tentar esclarecer se as fitas eram ainda úteis ou não.
Do teor do telefonema, apenas refiro que, após alguns difíceis esclarecimentos, lá consegui perceber que tinha havido cuidado e preocupação na remoção da sinalização, mas que…eventualmente tinham ficado para trás. Sem querer ser mais Papista que o Papa, terminei pedindo autorização para retirar as fitas numa futura passagem naquela zona e, … Que sim! Fui compreendido e autorizado.
Pois bem. Hoje, aproveitando um dia em que o tempo fazia caretas e o S. Pedro hesitava em usar o regador, lá fui honrar os compromissos.
Primeiro o passeio até ás Sombras, depois, recolher as fitas. Começámos tarde. Começámos às 11:00 horas. Nunca tinha iniciado o trilho das sombras depois das 9.30. A luz natural do dia enublado e ameaçador de chuva, conferiam ao vale uma luminosidade muito particular
A primeira grande surpresa do dia foi, ao chegar à ponte de Porta Paredes, ver que o trilho está a ser limpo. Enhorabuena!
Bem estava a precisar, depois de um ano como este em que tudo cresceu desmesuradamente. Era ali, precisamente no fim do primeiro lance da subida, depois da ponte, que tinha visto a primeira fita no dia 20. Ao aproximar-me, ainda esperava com algum positivismo, que a fita já lá não estivesse. Puro engano, infelizmente.
Como regressaríamos pelo mesmo sítio, optámos por deixar as fitas e recolhê-las na volta. Como disse, o trilho está a ser limpo e, nos locais onde estavam penduradas as fitas, a vegetação foi cortada. Até ao estradão encontramos só mais uma fita. Presa a um ramo que tinha sido cortado e apartado para o lado! Redobramos a atenção no regresso, procurando entre a vegetação cortada alguma fita que eventualmente tenha escapado à nossa vista na primeira passagem.
Terminado o trilho, chegados ao estradão, descemos até à ponte. Tempo para um café antes do regresso. Estava bastante vento e era mais um teste para um dos meus fogareiros a álcool. Funcionou!
Pouco passava da 13:00 quando iniciámos a volta.
Recolhidas as duas fitas que restavam e passados a pente fino os outros locais onde tínhamos visto as fitas, não fossem estar entre a vegetação cortada, chegámos enxutos à Ermida onde tínhamos começado.
Fique então descansado, Sr. organizador. Espero que acredite agora nas minhas intenções. Nunca passaram disto. Gosto de encontrar ciclistas por ali. A sério. Não me entenda mal. Gosto das iniciativas que aproximam as pessoas da Natureza. Louvo a atitude de pessoas e organizações que, como o Senhor, se empenham em proporcionar e promover a prática de actividades desportivas a atletas que só através desse Vosso esforço, podem usufruir de locais que, tem tanto de belo como de sensíveis! Só não gosto de lixo!
Meadinha
Ténue fronteira
Um martírio
Numa das caminhadas no Gerês, no início do mês de Junho, fui surpreendido por um acontecimento deveras raro. Conto esta história muitas vezes e fico sempre com a sensação de que não sou tomado muito a sério. As pessoas ficam com ar de quem diz: “Ok, agora conta lá isso sem exageros…”, e eu fico com a sensação de, “nem contado com contenção esta gente acredita…boh!” – eu faria o mesmo!
Foi assim:
O dia estava quente e sem vento. O precurso era o Trilho da Cumeada da Portela do Homem até a Amoreira. Zona árida, de vegetação rasteira característica daquela altitude, sem gado, muita pouca água.
Tendo eu grande tendência para transpirar abundantemente, facilmente comecei a pingar. A pingar mesmo!
Começou o martírio! As moscas, vá-se lá saber proquê, passaram a demonstrar uma tal simpatia por mim e pelo meu boné, que não me largavam. Adensavam-se à minha volta (da minha cabeça especialmente) e zumbiam de forma irritante. A coisa complicava-se cada vez que queria fazer uma fotografia. Tinha que bater umas quantas até conseguir uma “sem moscas”, o que, diga-se de passagem, começava a irritar-me.
O zum-zum constante nos ouvidos, o pousar descarado e titilante no rosto, o calor e a transpiração harmonizavam-se naquilo que viria a ser o meu suplício. Depois, aquilo que mais me intrigava é que só eu era o visado. Só eu era atacado, para gáudio de quem me acompanhava. Aí, a necessidade de encontrar uma solução, mais do que uma explicação para o sucedido, tornava-se urgente!
Eu molhava o boné, ou com a água que tinha, o que era um desperdício, mas pronto, ou lavava-o mesmo quando encontrava um regatinho ou água mais abundante. Sossego garantido durante 5 minutos! Logo a seguir recomeçava. E zuuummmmmmm… zzzuuummmm zzz zzzz zzz.
Nada feito. Tirei o boné, meti-o num saco plástico e afastei-me dele como último e derradeiro teste. Nada feito! em segundos já estava outra vez atacado. Fui-me encher de moscas! Literalmente!… é bem verdade. Fui-me encher de moscas!
Roguei pragas às moscas, às minhas toxinas e feromonas, ao fabricante do boné e a quem mo ofereceu. Roguei pragas ao gado ausente que bem me podia ter substituido. E começamos a descer…coisa que, felizmente, as moscas não fizeram. Fim do martírio!!!