A última ida às Sombras, ou melhor, o seu regresso deixou-me triste. Normalmente, para lá de algum cansaço, o final de uma caminhada é um momento de alegria. São momentos de grande satisfação que se sentem bem no Corpo e na Alma, ou seja, nos pés e mente. O facto de estar só poderá ter dado uma maior intensidade aquilo que senti, mas este final não foi nada agradável.
Já quase ver a Ermida de Nosa Sr.ª do Xurés descendo alto de Cabezos de Pedro Rodeiro, vejo, a uns 4 ou 5 metros, em pleno trilho, um cão prostrado. A postura e o facto de não se ter mexido com a minha aproximação – embora silenciosa, naquele silêncio seria mais que suficiente para despertar um cão – fizeram-me pensar imediatamente no pior. Não querendo que fosse verdade este meu pensamento de que o cão estaria morto, envenenado, ferido a tiro, ou o que fosse, cuidadosamente fui-me aproximando fazendo-me manifestamente notar.
Num esforço notório, demonstrando uma debilidade extrema, aquele quase cadáver, levantou-se apenas quando quase o tocava. Sem o contrariar, constrangido e acometido de um sentimento de impotência, contemplei aqueles olhos de súplica. Vi-o afastar e continuei o caminho.
De imediato assumi que a caminhada tinha terminado ali. Assim guardava uma memória positiva de mais uma ida às minas da Sombras. Era desconfortante demais que este triste episódio rematasse as horas de prazer vividas enquanto estive embrenhado no vale do rio Vilameá.
Percorri os 150 metros que faltavam até ao carro. Descansando sentado numa pedra, um breve ruído de plásticos quebra o silêncio que se sentia. Outro cão. Estava em melhor estado. Se estava abandonado – coisa evidente no outro – esse abandono era recente. Esfomeado, alimentava-se como podia.
Quando deu pela minha presença, afastou-se. Aproximei-me da árvore e não podia ter ficado mais surpreendido. Estava convertida em prático e cómodo caixote de lixo quando, a 50 metros está um contentor.
Pobres dos cães e desta gente. ( o ser em Espanha é irrelevante, claro)