Quiseram os calendários, civil e religioso, brindar os Portugueses com quase uma semana de férias. Como povo trabalhador que somos, excursionistas, turistas, ciclistas e “botistas”, entre outros, aproveitaram fervorosamente esses dias.
Enfim, as estradas, os parques, inclusive os de campismo, os destinos de lazer genericamente, encheram-se. E o Gerês não foi excepção!
Apesar do tempo pouco convidativo que se fez sentir durante todo o dia de 4ª feira e parte do dia de 5ª, veio a 6ª feira de sol, e ei-los que surgem.
Também eu e minha mulher ajudámos a engrossar esse lote.
Quando cheguei à Portela do Homem eram 8:30. Dois carros estacionados. Pouco movimento de carros passantes. Tudo normal.
Partimos de imediato para mais uma caminhada na zona, regressando passadas cerca de 5 horas. No regresso, ainda no trilho, descendo para a estrada, já se ouvia o barulho de carros e pessoas.
Quando chegámos, qual romaria minhota, o espaço estava congestionado, a estrada entupida, a confusão instalada e o caos montado.
Claro que, como quem gosta de sossego e natureza, não pude ficar indiferente ao triste espectáculo.
O “parque” de estacionamento era caótico. Carros ligeiros e caravanas espalhavam-se conforme podiam e enquanto houve espaço, sem qualquer controlo. Marcações no pavimento? Nada! Talvez porque ainda não encontraram a tal tinta ecológica, do tipo da tinta de pintar mariolas, para fazer meia dúzia de risquitos no chão e por um pouco de ordem no estacionamento.
No meio de todo este caos, vejo passar um jeep do Parque, que, por acaso, é patrocinado – apoiado pela REN. (essa “empresa ecológica” que entre as acções de defesa de natureza, também tem a seu cargo a produção e venda de energia. Sabiam? Os que nos querem fazer querer que as barragens são Turismo, Cultura, Agricultura, Património e mais não sei o quê…). Fiquei logo todo contente, pois seria suposto virem até ali pôr um pouco de ordem, sensibilizar as pessoas, enfim, acautelar um pouco a zona e o espaço envolvente! O jeep andou, com dificuldade, por entre as viaturas já estacionadas e as que circulavam, até inverter a marcha e estacionar na berma junto à “barraca” onde, mais tarde, seria eu parte integrante de outra barracada.
Perante este triste espectáculo, resolvi registar em fotos o que se passava.
Aproximei-me da zona de portagem e toca a fotografar.
Não passaram 5 minutos, e logo um dos vigilantes vem ter comigo. Começou por se identificar e, na qualidade de vigilante do Parque, passou a fazer-me perguntas.
“ O Sr. está a tirar fotografias? Para que são? O Sr. é repórter? Tem autorização?…”
Embora o fizesse com toda a educação, parecia-me abusivo.
No desenrolar destas questões, pede-me que me identifique.
Pedi-lhe que me acompanhasse ao carro, onde tinha os meus documentos. Enquanto me dirigia ao carro tentei entender o que se passava, chegando mesmo a perguntar-lhe porque o fazia. Respondeu-me que as fotografias tinham que ser autorizadas pelo PNPG. Argumentei, dizendo-lhe e mostrando-lhe outras pessoas que na mesma zona utilizavam as suas máquinas fotográficas. Que não me parecia violação de qualquer regra ou disposição vigente.
Chegados ao carro, ao ver a mochila de onde retirei a minha documentação, mais um rosário de perguntas e advertências.
“Vai pernoitar no parque? Olhe que é proibido!…” Assim, e tentando com grande esforço, ver com boas intenções a atitude deste vigilante, fui-me reservando nas respostas e manifestando o meu desagrado por tal invasão da minha privacidade. Eram perguntas a mais e, além disso, descabidas. Claro que não era com o vigilante que eu estava indignado, mas era com ele que eu tinha que aclarar esta insólita abordagem.
Sempre em tom educado, repito, tentando explicar-me o que não tem explicação, o vigilante demonstrava ter pouco à vontade com a situação e manifestava algum desagrado e mau estar pela postura que assumia. Acabei por exibir o B.I. que, diga-se em abono da verdade, foi lido em diagonal, nada tendo sido registado.
Responsabilidades? Quem é efectivamente responsável por estas situações e este clima?
O que motiva e justifica a atitude dos vigilantes?
Já sei. Já sei! Os utentes!
A direcção está mais preocupada com a certificação Pan-Parques. Pelo menos, há poucos meses, parecia que sim!
Quando não conseguem gerir o actual movimento, ainda pensam em incrementá-lo em visitantes. Senão, vejam neste extracto do texto do ICN na web:
“Com a certificação PAN Parks é de esperar um incremento substancial do afluxo de turistas estrangeiros (nomeadamente do norte da Europa), pois irá permitir integrar o PNPG no roteiro dos grandes operadores turísticos especializados no turismo de natureza. Resulta, ainda, outro aspecto verdadeiramente importante que é a possibilidade de consolidar a estratégia deste Parque Nacional de se manter uma zona de Ambiente Natural sem qualquer intervenção humana, a qual poderá ser um verdadeiro banco de ensaio para se testar a sucessão ecológica, implementando o conceito de wilderness em Portugal. Acresce que a certificação PAN Parks é também uma certificação da gestão da área protegida.”
Alguma coisa vai mal.
Esta é a prova de que o PNPG parece não actuar de boa fé. Senti-me perseguido. Atentaram contra os meus mais elementares direitos. Em nome de quê? da Conservação? da Natureza? Não consigo compreender.
ICN – Instituto de Comercialização da Natureza? Será isso? Parece que sim.
O que faziam as meninas, envergando os coletes do ICN? Comércio! a qualquer preço!
Porque se sentiram mal com a presença de uma câmera fotográfica?
Rabo-de-palha?
Porque me abordaram?
Intimidação?
Desafio o PNPG a explicar o que fez (faz) com este tipo de actuações.
Desafio o PNPG a explicar porque não cuida destes problemas, procurando soluções sustentáveis e compativeis, procurando , bem pelo contrário, afastar e reprimir aqueles que por ali andam.
Não é com a aplicação de taxas ou coimas que se defende o Ambiente. É com sensibilização e vigilância!
Deixo-vos as fotos!