Numa das caminhadas no Gerês, no início do mês de Junho, fui surpreendido por um acontecimento deveras raro. Conto esta história muitas vezes e fico sempre com a sensação de que não sou tomado muito a sério. As pessoas ficam com ar de quem diz: “Ok, agora conta lá isso sem exageros…”, e eu fico com a sensação de, “nem contado com contenção esta gente acredita…boh!” – eu faria o mesmo!
Foi assim:
O dia estava quente e sem vento. O precurso era o Trilho da Cumeada da Portela do Homem até a Amoreira. Zona árida, de vegetação rasteira característica daquela altitude, sem gado, muita pouca água.
Tendo eu grande tendência para transpirar abundantemente, facilmente comecei a pingar. A pingar mesmo!
Começou o martírio! As moscas, vá-se lá saber proquê, passaram a demonstrar uma tal simpatia por mim e pelo meu boné, que não me largavam. Adensavam-se à minha volta (da minha cabeça especialmente) e zumbiam de forma irritante. A coisa complicava-se cada vez que queria fazer uma fotografia. Tinha que bater umas quantas até conseguir uma “sem moscas”, o que, diga-se de passagem, começava a irritar-me.
O zum-zum constante nos ouvidos, o pousar descarado e titilante no rosto, o calor e a transpiração harmonizavam-se naquilo que viria a ser o meu suplício. Depois, aquilo que mais me intrigava é que só eu era o visado. Só eu era atacado, para gáudio de quem me acompanhava. Aí, a necessidade de encontrar uma solução, mais do que uma explicação para o sucedido, tornava-se urgente!
Eu molhava o boné, ou com a água que tinha, o que era um desperdício, mas pronto, ou lavava-o mesmo quando encontrava um regatinho ou água mais abundante. Sossego garantido durante 5 minutos! Logo a seguir recomeçava. E zuuummmmmmm… zzzuuummmm zzz zzzz zzz.
Nada feito. Tirei o boné, meti-o num saco plástico e afastei-me dele como último e derradeiro teste. Nada feito! em segundos já estava outra vez atacado. Fui-me encher de moscas! Literalmente!… é bem verdade. Fui-me encher de moscas!
Roguei pragas às moscas, às minhas toxinas e feromonas, ao fabricante do boné e a quem mo ofereceu. Roguei pragas ao gado ausente que bem me podia ter substituido. E começamos a descer…coisa que, felizmente, as moscas não fizeram. Fim do martírio!!!