Esta abordagem de Carris foi diferente. Foi feita desde Lamalonga até ao imponente edifício da lavaria nova, mas seguindo exactamente pela linha de água e não pelo trilho habitual. A cada passo e a cada pulo por entre as pedras, fui tentado contar a mim próprio a história contida em cada metro cúbico daquele espaço. Tentei ser tão prudente na progressão, como na sua interpretação. As pedras furadas, semi-laboradas, as usadas e desperdiçadas, numa disposição caótica organizada pela torrente que outrora foi fulcro daquela exploração mineira, faziam-me recordar o esforço hercúleo daqueles que ali padeceram os seus dias na era do ouro negro. Tentei vestir a pele daquela gente… e senti-me mais denso que o volfrâmio e mais maleável que o molibdénio. A limitação de meios, a severidade do local nos seus múltiplos aspectos, o isolamento, a organização politica e administrativa da nação – OPAN dos malfadados tempos – em prole da ruína, continuam ali a fazer jus à memória dos tempos. A memória indelével da Natureza que se recompõe de todos os traumas porque os considera insignificantes de tão grandiosa que é. Foi isso que mais me espantou! percebi durante aquela subida que o conceito de harmonia e caos são exactamente o mesmo e só dependem do tempo. Continuei a subir. Cada vez mais próximo da tecnologia e do processo industrial expresso naquela construção labiríntica da lavaria, fui encontrando os mais diversos vestígios dessa grandiosa empreitada do Homem e ao mesmo tempo reflectido na sua insignificância…certamente essa é uma das fantasias de Carris.