Hoje em dia, infelizmente, é tida como correcta a utilização – indiscriminada – do cimento Portland nas reparações e manutenções de construções antigas. Quer por parte de entidades que deveriam ser exemplares, quer por parte de particulares, que, imbuídos das melhores intenções e certos de “estarem a fazer muito melhor”, assistimos a intervenções que deveriam ser evitadas e para as quais deveria ser criada regulamentação. (alguma legislação existe mas, ou não se aplica, ou não se fiscaliza, o que vem dar ao mesmo penso eu!)
Sei que esta preocupação, para muitos, poderá parecer absurda, exagerada, errada e ridícula. Sempre que tenho oportunidade de discutir assuntos relacionados com rebocos e conservação de construções antigas – feitas com as chamadas “técnicas Tradicionais”, raras são as vezes que não encontro forte resistência e argumentação contrária. Acredito que a maior parte das vezes, o desconhecimento total e a falta de observação e reflexão entre outros, são factores geradores de tais ideias e/ou conceitos errados. Compreendo que quando se pensa em cimento, na mente da maioria das pessoas se geram conceitos de solidez, robustez e durabilidade. Não posso acreditar noutra coisa. São crescentes as intervenções com excessos de cimento e rebocos impróprios, que não são mais que atentados à continuidade dessas construções, uma vez que serão essas mesmas intervenções a ditar de forma antecipada a sua sentença de morte.
Não falo apenas dos grandes e nobres edifícios com valor patrimonial e histórico, geridos por organismos credenciados e reconhecidos. Falo também de construções de cariz popular destinadas à habitação, arrumos e outras construções, assim como dos muros de delimitação.
Porquê? Porque é errado o uso de cimento?
Não sendo especialista na matéria, procurei alguns textos e documentação relacionada para me apoiar. Pouco se encontra em língua Portuguesa. Entretanto encontrei um texto da SPAB traduzido. Como “os Santos da casa não fazem milagres”, o facto de ser um texto da Society for the Protection of Ancient Buildings, Tradução e edição por António de Borja Araújo, Engenheiro Civil, IST, poderá para alguns constituir motivo de espanto e argumentação credível.
Embora seja um texto informativo e de aconselhamento que aborda e levanta questões especificas de rebocos em edifícios, foca determinados aspectos fulcrais para o entendimento da problemática do uso do cimento, que facilmente podem ser transpostos para outras situações em construções com “técnicas tradicionais”.
Por agora deixo apenas este link para o texto como primeira abordagem a este assunto, prometendo voltar a ele!