Civilização

Falas de civilização...

Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as coisas humanas postas desta maneira,
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!

                                          Alberto Caeiro

img03margAo contrário do que seria de esperar, desta vez, caminhar ao longo da margem de um rio, proporcionou em mim sensações pouco agradáveis e de desconsolo. Tristes mesmo, diria, resumindo tudo a um grito contido e emudecido no subconsciente. O facto de estar sozinho, de ser um passeio sem tempo nem relógio, motivado pela curiosidade e aproveitando o baixo nível da água, fizeram desta inesperada passeata na albufeira do Lindoso, ali pelos lados do extinto lugar de Aceredo, um momento de reflexão.

No meio disto tudo, não me pude alhear da informação que tenho recolhido ultimamente sobre aquilo que foi o drama desta gente que viu em 1992, e de forma até hoje incompreendida pela maioria deles, as suas terras invadidas  pelas águas, em nome do progresso e do futuro. Também não me pude alhear do facto de estar num parque natural. De estar numa zona protegida, onde, nos últimos tempos, não tem sido fácil a convivência entre os diferentes intervenientes, gladiando-se com contradições e incompatibilidades mais ou menos razoáveis de lado a lado.  Sobretudo não me pude alhear de estar numa zona onde, a presença do Homem e a prática das suas actividades seculares, são postas em causa à luz da (falsa) sustentabilidade e do desenvolvimento.

No meio de um silêncio sepulcral e dos murmúrios da brisa quente e bafienta que soprava nos locais mais expostos, ouvia os meus passos escorregando no árido declive da margem. Percorrer aqueles caminhos por entre os muros que tantas histórias ouviram, que tanta sabedoria encerram, fez-me pensar. Pensei no tempo empregue e no saber aplicado de quem juntou pedra a pedra. Pensei no carinho e dedicação que foram pondo em cada muro.  Pensei nos materiais e nas técnicas. Pensei no conhecimento profundo que esta gente tinha dos terrenos e da evolução das linhas d’água.  Pensei nas gerações indómitas que ali passaram. Pensei nas alegrias e nas tristezas, nas horas boas e nas horas más que ali foram vividas…e fui-me perdendo em perguntas sem resposta, procurando uma qualquer lógica que não consigo encontrar.

 

img00marg

img02marg

img03marg

img04marg

img05marg

img06marg

img07marg

img08marg

img09marg

img10marg

img11marg

img12marg